Fragmentos de personagens e suas histórias

Eis Teresa. Toda a sua vida é uma inquietação. Insegura, com sobressalto ao mais pequeno imprevisto, reage disparando argumentos histéricos aos ladrões da sua razão e dos seus valores, Procurando protecção criou em seu redor uma redoma que é a sua caixa-forte. Para Teresa, a única fonte de tranquilidade é a sua profissão de vigilante nocturna. Aí Teresa é tesa.
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Sempre em voga, Olga é uma advogada de sucesso, carrega de toga, descarrega no yoga. Todas as noites se logga, estudando o que todos os dias advoga. Sem descanso, compila as suas razões argumentando e contra-argumentando para com os seus botões. Não tem qualquer preocupação com o ser feliz ou infeliz. É apenas ocupada. Tão ocupada que nem se apercebe daquilo que é para os que lhe são próximos. Uma acusada sumariamente condenada.
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Chegara o dia de Renato sair da prisão. Anos de terror temendo a violação à bruta por parte dos outros reclusos, munidos dos seus pénis sujos e animalescos. Finalmente Renato está livre! Incólume! Podendo agora desfrutar de tudo isso, em qualquer estação de serviço, devidamente protegido pelo anonimato de um glory hole.
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Para Vicente cada vez mais o horizonte era um local longíquo e imperceptível. Progressivamente deixara de vislumbrar a vida com a clareza de outros tempos. Para os outros o seu olhar tornara-se minusculo e baço. A culpa é do par de óculos hipster que comprara há dia pois sem o saber são altamente graduados.
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Igor é o melhor técnico de suporte no mundo. Quando todos os outros falham é ele o chamado em último recurso. Actua como que por magia. Segundos depois de falar com os utilizadores, muitas vezes sem sequer tocar no teclado, estes confirmam que está tudo ok e despedem-se efusivamente. É um dom natural que consigo nasceu ao qual deram o nome de halitose crónica.
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A António chamavam-no de poeta, coisa de que nunca se auto-intitularia. Escrevia umas coisas quando elas queriam ser lidas. O seu sonho era o de escrever um livro de tirar o fôlego a qualquer um. Uma epopeia árdua pois sempre que a iniciava dava-se a sua imediata desinspiração. Até que um dia decidiu deixar de ser refém das suas próprias limitações, inspirou profundamente, sentou-se, bateu tecla atrás de tecla, as linhas transformaram-se em parágrafos, os parágrafos em capítulos, num só respirar escreveu todo um livro de fio a pavio, juntado-lhe ao seu final o seu próprio falecimento. A autópsia não deixava margem para dúvidas. "CAUSA DE ÓBITO: falta de ar"




PS - Estes pequenos perfis e/ou histórias de hipotéticas personagens resultam da compilação de alguns dos meus posts de Facebook a que achei piada particular e aqui registo para melhor partilha e referência futura.

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Olá... estou-te a ver! Podes falar mal ou falar bem mas com juizinho sff! Beijinho e/ou Abraço

Escrito de Fresco porquê?

Há quem me tome por incontinente verbal mas a verdade é que a minha língua não tem débito suficiente para o turbilhão de pensamentos que me assolam a mente a todo o momento. Alguns engraçados, outros desgraçados, mas vários merecedores desta lapidação digital para a posteridade e, quem sabe, para a eternidade. Os escritos aqui presentes surgiram do nada e significam aquilo que quiseres. Não os escrevi para mim mas sim para ti. Enjoy

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