Serial Killer
Eu, assassino em série, me confesso
Aqui estou, como sou
Como assim, como sou?
Talvez seja melhor começar como tudo começou
Como comecei
Um começo espesso
completamente virado do avesso
E então
me matei,
pela primeira vez
Matei-me ingénuo, inocente
Tornei-me culpado, inclemente
completamente diferente
Sonhei o pesadelo dos outros
Assinei papéis e contratos
Vivi a vida de todos
Olhos cegos, ouvidos moucos
Até que a meio acordei
e mais uma vez
me matei
Sim
assassinei-me várias vezes
mais que uma
mais que duas
mais que ...
três?
Não sei.. de contas sou meio tan-tan
Direi que me mato o necessário para me manter a mente sã
Tenho brio em fazer o que é preciso mantendo o sangue frio
Noviço fi-lo inadvertidamente
Hoje faço-o selectivamente
Sou o homicida de serviço
Em mim há muitos,
em mim há uma legião
Não estou possuído por ela
Sou seu comandante, seu capitão
Ela é a minha armada,
bela
É entre ela que eu escolho e
Mato, morro
Mato, morro
Mato, morro
trabalhando a fusão do meu interior
em socorro do meu exterior
Não tenho heterónimos pois todos eles são eu
Cada um, um meu sinónimo, anónimo
São-no à sua vez,
ontem como agora
Até chegar de morte a sua hora
Porque por vezes há que
perecer
para ser
Por favor não me vejam como um demo
Pois também eu um dia temo,
ainda que de forma tímida e íntima,
vir a tornar-me a próxima vítima.
Talvez por isso
Eu,
serial killer,
vos digo
com esta grosa de rimas e palavras à toa
com esta prosa sem tesão de livro de Henry Miller
Que quero ser menos poesia e mais Pessoa
Nem que para isso tenha de
até à eternidade
despir-me de
toda e qualquer identidade
expondo-me integralmente nu
NU
Faria!?
PS - a ideia para este poema surgiu no dia Mundial da Poesia em que assisti a um evento na Malaposta onde foi declamada/interpretada parte da obra de Fernando Pessoa. Pus-me a pensar se realmente necessitaríamos de nos fazer passar por outros para passar emoções e formas de estar antagónicas. Se Pessoa tivesse sido só Pessoa e não todos os que foi a sua obra teria menos impacto? Deverá um artista criar versões de si para cada uma delas manter uma consistência homogénea em vez de se apresentar como um ser único ainda que com laivos de esquizofrenia?
E que coerência temos ao longo da vida já que se a vivermos plenamente estaremos em constante mutação?
E assim nasceu este texto, com um cunho pessoal final onde faço um trocadilho com o meu nome Nuno Faria, assumindo-me como alguém que mantendo a cara e o nome vai altercando o seu conteúdo.
Ontem teve o seu baptismo de Slam, hoje é entregue ao mundo.
sexta-feira, abril 18, 2014
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Poesia?
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2 comentários:
Adorei.
Bom voltar a ler-te... ;)
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Olá... estou-te a ver! Podes falar mal ou falar bem mas com juizinho sff! Beijinho e/ou Abraço